A elaboração narrativa no abuso sexual: O papel das vitimas enquanto protagonistas no processo de mudança
DOI:
https://doi.org/10.17575/rpsicol.v27i1.240Palavras-chave:
-Resumo
A investigação no domínio do abuso sexual na infância e adolescência tem vindo a reportar uma variedade de potenciais consequências adversas da experiência abusiva no desenvolvimento das vítimas, sendo relativamente escasso o estudo dos fatores que caracterizam as trajetórias desenvolvimentais adaptativas/resilientes. Neste sentido, foi realizado um estudo com vítimas de abuso sexual (a partir do modelo narrativo de White e Epston), cujo objetivo passou pela compreensão da experiência de abuso e dos processos de mudança associados. Foram realizadas 16 entrevistas qualitativas em profundidade com vítimas de abuso sexual, cujos dados foram submetidos a um processo de grounded analysis e de codificação através do Sistema de Codificação dos Momentos de Inovação (MIs). Os resultados refletem uma considerável diversidade de MIs, sendo o MI mais saliente o de Reflexão, enquanto o de Reconceptualização surge sub-representado. Os recursos identificados pelas crianças/jovens para a mudança incluem essencialmente a dimensão de suporte social (pares, família e professores), sendo a revelação, as expectativas de justiça, as crenças religiosas e a construção de novas significações para o self dimensões que reforçam a perceção de competência pessoal e controlo. O modelo narrativo revelou-se útil na compreensão das dinâmicas de significação destas crianças/jovens em torno do seu processo de mudança, sendo de salientar o seu papel enquanto “protagonistas” ativos nas suas narrativas pessoais de abuso.