Perspectivas epistemológicas em Psicoterapia (I): Filosofia da ciência, psicologia e psicoterapia
DOI:
https://doi.org/10.17575/rpsicol.v6i2.803Palavras-chave:
-Resumo
Nesta primeira parte do artigo, o autor refere-se às razões do afastamento que tem caracterizado as relações entre a filosofia da ciência/epistemologia e psicologia/psicoterapia, constatando que esta relação tem sido não-recíproca no sentido de só a filosofia da ciência ter influenciado a psicologia/psicoterapia através do «positivismo lógico». Defende-se que em função da falência do «positivismo lógico» e do surgimento recente da «psicologia da ciência» e das filosofias «não-justificacionistas» é possível estabelecer a reaproximação das duas disciplinas de uma forma recíproca, tanto a nível metodológico como conceptual. Referindo a existência de três modelos psicoterapêuticos recentes que podem ser entendidos m contexto das relações entre filosofia da ciência e psicoterapia, apoiam-se quatro características unificadoras dos referidos modelos: 1) utilizam como suporte quadros teóricos oriundos da filosofia da ciência e da epistemologia; 2) tomam explicitamente em consideração a forma como os indivíduos adquirem, organizam, mantêm e modificam o seu conhecimento; 3) rejeitam a existência de «autoridades epistemológicas últimas»; 4) adoptam o ponto de vista das «teorias motóricas da mente» bem como uma visão construtivista do funcionamento humano. Finaliza-se com a descrição e análise do primeiro dos três modelos, o de M. J. Mahoney. Acentuam-se como fundamentos teóricos deste modelo: a) a «oncologia construtivista» - o papel activo dos indivíduos na construção da informação sensorial a que respondem; b) a «primazia do significado» - a importância do significado pessoal dos acontecimentos, construído em função de relações entre ordem e contraste; c) o «estruturalismo e emoções» - processos oscilatórios de tensão dinâmica entre contrastes que sobreordenam os emocionais. Relativamente ao processo terapêutico, Mahoney propõe a utilização de metodologias de avaliação multimodais e um esquema de intervenção baseado na análise que T. Kuhn faz da evolução da ciência e mudanças científicas.